Apenas para referência futura, esse trecho de texto do Ruy Fausto.
No leninismo, temos uma cristalização da ideia de “ditadura do proletariado”, que, em Marx e Engels, era um momento (quase equivalente, como assinalou Draper, da “ditatura” em sentido romano), um vanguardismo que é estranho à concepção “massista” de revolução, que encontramos em geral em Marx, e um à vontade nos métodos que ultrapassa de longe o “distanciamento” em relação à moral (que não vai, apesar de tudo, sem certas exigências e escrúpulos, implícitos ou explícitos) no pensamento de Marx e de Engels.
E esse outro trecho, de outro texto:
Politicamente, a ênfase no automovimento do proletariado, e na revolução das maiorias, apesar das opiniões correntes, fazem do Manifesto [Comunista, MG] um texto que, em primeira instância, é dificilmente compatível com a leitura da política marxista que farão alguns no século XX: Creio que a política do Manifesto – que não fala em “ditadura do proletariado”, só em “dominação” (Herrschaft) do proletariado, mas não é isso o essencial – é em primeira instância incompatível com o vanguardismo bolchevique. Do Manifesto é difícil tirar a idéia de partido único. Entretanto, como veremos a partir de uma outra vertente, ele pode dar armas a um projeto antidemocrático (nos limites desse texto, diria que são os direitos da “minoria” não-revolucionária – não necessariamente contra-revolucionaria – que ficam vulneráveis. Mas a partir dessa brecha, tudo se torna possível, mesmo a autodeterminação do proletariado acaba sendo ameaçada).