Oscar e Batman

piadamortal

Fiquei sabendo que a nerdaiada tá p. da vida porque o Batman não foi indicado para o Oscar, exceto em categorias técnicas e a homenagem póstuma do Ledger. E aí já há quem justifique porque o Batman não deveria mesmo ter sido indicado em outras categorias.

Bom, acho que há dois erros gritantes nessa questão. O Primeiro é achar que o Batman ter sido ou não indicado ao Oscar em outras categorias deve-se a questões artísticas e discutir em cima disso.

E o segundo erro, e mais importante, é que a própria análise artística analisada no Blog Hell Fire não pega o ponto principal.

Nós já postamos aqui vários textos sobre os heróis (Zorro x Batman, V de Vingança etc. e o papel deles). Pra não repetir o assunto, vou ser bem direto. A questão a ser desenvolvida (mas que não teria sido) em Dark Night não é que o Coringa “É aquele antagonista que leva uma história de “bandido e mocinho” para outros níveis, porque ele faz o próprio herói se questionar, repensar as atitudes”. E o filme não é bom porque o Coringa é Foda.

Dark Night é muito bom porque ele põe em xeque e expõe aquilo que é essencial num herói: até que ponto ele está a serviço da ordem e até que ponto ele está fora da ordem estabelecida? Até que ponto sua máscara representa um ser capaz de assumir a universalidade? Até que ponto o herói pode ficar preso a contextos pariculares?

O Antagonismo Batman vs Coringa assume outros níveis porque o Coringa é, salvo engano, o único grande vilão que tem máscara, como os heróis, mas com um detalhe a mais. Ele assumiu a máscara. Ele radicaliza a libertação dos grilhões da particularidade. O Coringa é louco não porque é louco, mas justamente porque a máscara é a própria face dele. Ele não tem uma outra vida, fora da Máscara (ao contrário de Lex Luthor, por exemplo).

Uma amigo escreveu uma vez sobre máscaras, a propósito de um outro texto que saiu numa revista argentina. Lembrava ele que a máscara tem a função de fazer parece o que não é. Contudo, às vezes queremos parecer o que não somos e acabamos sendo o que não queríamos.

Acho que a verdade do Coringa é essa. O Rosto dele é a máscara. E ficamos sem saber se ele é o que não é, se parece ser o que é, ou se representa justamente as pessoas que acabam sendo outro que o que pretendiam ser.

Uma piada macabra é, convenhamos, nada humorística. Não é nem humor negro. Portanto, a questão do Coringa não é seu humor. Nem sua loucura. A questão central é saber o quanto representamos e o quanto não representamos, até onde vão as nossas Máscaras. Sabendo disso, o Coringa exigiu que o Batman se revelasse, tirasse a máscara dele. Ate´que ponto a força do Herói está em sua Máscara? Até que ponto essa é também a sua fraqueza?

Isso é um grande roteiro, não há dúvida. Se merecia o Oscar? Sinceramente, o Oscar não merece o Batman. O que não significa que seria melhor mesmo não ganhar o Oscar. Mas esse é assunto pra outro post…

Sobre Manoel Galdino

Corinthiano, Bayesiano e Doutor em ciência Política pela USP.
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2 respostas para Oscar e Batman

  1. Anica disse:

    Isso de “assumir a máscara” é bobagem. “Assumir a máscara” é se afastar da humanidade, se fazer diferente. E o que faz dos diálogos dele e do Batman nas HQs algo tão bom é justamente o fato de que ele, a todo momento, mostra que a diferença entre ele e nós é apenas um dia ruim (parafraseando o Alan Moore).

    Faltou isso no filme, e por enquanto a única “explicação” de nerd que achei coerente foi a do Knolex (lá nos comentários do Hellfire), falando sobre ser um filme sobre o Harvey Dent. Nesse sentido Dark Knight é realmente algo acima da média. Mas como filme focando em Coringa e Batman, é muito bom mas ficou aquém do que poderia ser. E foi só isso que quis colocar no meu post, embora aparentemente quase ninguém tenha entendido.

  2. Humberto disse:

    O coringa é um ser prismático e contraditório. A vida em sociedade incuba contradições, que vez ou outra individúos voluntariam-se para vivê-las. E na pele. Cotidiana prova fornecem os diversos atores que constituem interessante oportunidade para verificação das proposições formuladas no início. O modo de pensar os atores desses processos interligados, e sob um novo prisma conceitual, exige um acurado exercício de alheiamento das velhas visões estabelecidas. Coringa é Batman e Batman é Coringa ipso facto. Do mesmo modo como afirmam que o criminoso é subproduto da sociedade o Batman é então o suproduto do judiciário, pois ele é o excesso de lei, bem como voluntarioso nos métodos cruéis punição. A complexidade das contradições cumpre um papel essencial na formulação do sistema punitivo estabelecido e aceito pela névoa coletiva da sociedade. Névoa essa que permite visualisarmos um novo paradigma, muito prismático e revelador, acerca das implicações do binômio Sociedade-Coringa. O contrário da lei é a desordem e o contrário do crime é punir. É assim que a sociedade elege seus próprios ícones e os permuta, através dos seus diversos atores, entre os quais são exemplos Heath Ledger. Pois o cinema também é um laboratório de contradições inegavelmente apropriadas, e espelho reflexivo da sociedade. Da mesma maneira desigual e incomum, também existem outras ambiguidades no enrredo de Batman enquanto fábula pós-moderna. No âmbito das leis interventivas na esfera de liberdades dos cidadãos, qualquer limitação aos direitos feita pela lei deve ser apropriada, exigível e na justa medida, e isto vale inclusive para um herói ficticio. Mas o que vemos é que Batman é ilegal de vários modos.

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